Product trio e mitigação de riscos: quando três definitivamente não é demais.
A pandemia de 2020 e as mudanças que vieram com ela escancaram algo que já estava eminente. Mesmo antes do lockdown, já se falava em mundo BANI (CASCIO, 2020), um mundo cada vez mais frágil, ansioso, não linear e incompreensível que tem necessidades ainda mais imprevisíveis. Nesse contexto, é imperativo o reconhecimento de que um cenário desafiador pede uma abordagem dinâmica e criativa que dificilmente vai ser alcançada por apenas uma pessoa.
Segundo a pesquisa sobre o futuro das big techs, feita pela JP Morgan (2022), "as oportunidades para as empresas de tecnologia em 2023 incluem medidas de redução de custos e foco em impulsionadores de crescimento de longo prazo". Em bom e velho português: fazer mais com menos recursos. Para product managers, é necessário adotar ainda mais uma postura desbravadora, olhando menos para frameworks da moda e investigando as necessidades do negócio e do seus clientes. Contudo, essa não deve ser uma tarefa solitária e a colaboração pode ser o ponto focal para nortear seus processos de Descoberta.
O product trio, ou trio de produto, é normalmente composto por um designer, um product manager e um tech lead, configuração que abrange viabilidade técnica, relevância para o negócio e usabilidade. Ainda que falar de colaboração entre três áreas pareça ser natural para o sucesso do produto, muitos product managers terminam sendo engolidos pelas demandas dos stakeholders e acabam não fazendo o seu papel em trazer seu trio pra dentro do processo. Assim, com pouca clareza dos "porquês" de cada projeto, o engajamento do time pode cair por não enxergarem sua relevância no processo de Descoberta.
Dizemos que se você está apenas usando seus engenheiros para codar, está obtendo apenas cerca da metade do seu valor. O segredinho no desenvolvimento de produtos é que os engenheiros são geralmente a melhor fonte de inovação, mas nem sequer são convidados para a festa.
Marty Cagan, Autor - Livro Inspired (Tradução Livre).
A colaboração entre este trio pode mitigar os riscos identificados logo no início da Descoberta e evitar custos num estágio mais avançado. Em primeiro lugar, a troca de informações entre esses profissionais permite que sejam identificados possíveis problemas e soluções de forma mais rápida. Isso porque cada um tem uma visão diferente sobre o produto e pode contribuir com ideias que, juntas, formam um panorama mais completo e preciso. Além disso, a colaboração entre esses profissionais também ajuda a garantir que o produto final atenda às necessidades do usuário e seja tecnicamente viável.
É necessário sair da atitude que faz muitas empresas "fábrica de features", para conduzir uma transformação em algo que vá resolver o problema de alguém. Enquanto os times não se envolverem de uma forma completa, desde a proposição de uma oportunidade, decisões equivocadas e atrasos no desenvolvimento serão comuns. Torres (2021) propõe uma cultura de Descoberta que se apoia em uma estrutura colaborativa do trio e expõe como é importante que todos trabalhem alinhados por um objetivo.
Quando um trio de produto é encarregado de entregar um resultado, a empresa está claramente comunicando que valor a equipe pode criar para o negócio. E quando a empresa deixa para a equipe explorar as melhores saídas que podem impulsionar esse resultado, ela está dando a eles a liberdade necessária para criar valor para o cliente.
Teresa Torres, Autora - Livro Continuous Discovery Habits (Tradução Livre).
Portanto, fica claro que para uma Descoberta de produto que se desdobre em uma melhor performance do time, entregando mais valor para o usuário, é necessário se afastar do formato engessado de silos e começar a dividir mais entendimentos e responsabilidades. Ainda que o product manager tenha o papel de orquestrar os processos, o trio deve dividir a responsabilidade de entregar o melhor produto para o cliente, que atenda todos os requisitos técnicos, de usabilidade e de negócio.